
Apesar dos avanços recentes, a oferta de microsseguros no Brasil ainda não atinge plenamente a população de baixa renda. Segundo Júlia Normande Lins, diretora da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o segmento permanece distante do potencial esperado, e a autarquia tem estudado alternativas para impulsionar esse mercado, incluindo o estímulo à entrada de seguradoras do segmento S4, voltado a operações menores e produtos simplificados.
As microsseguradoras contam com dispensas regulatórias que poderiam reduzir custos, mas levantamentos feitos pela Susep mostram que ainda existem ajustes necessários para tornar suas operações mais eficientes. O preço é um dos principais obstáculos, dado que grande parte da renda das famílias brasileiras é destinada a despesas básicas. Outro desafio é a distribuição: o modelo tradicional exige grande volume de vendas, o que nem sempre é compatível com produtos de tíquete baixo.
Para ampliar o alcance, especialistas apontam a necessidade de novos canais e parcerias. Em outros países da América Latina, iniciativas envolvendo cooperativas, empresas relevantes em determinadas cadeias produtivas e instituições com forte presença comunitária têm ampliado o acesso ao seguro. Casos como a oferta de proteção a pequenos cafeicultores na Colômbia e a cobertura para vendedoras informais de cosméticos mostram como modelos alternativos podem alcançar públicos específicos.
No Brasil, algumas seguradoras têm adotado estratégias semelhantes. A AXA tem ampliado parcerias com concessionárias de serviços públicos, varejistas e financeiras. Entre os microsseguros mais demandados pela empresa estão garantia estendida, proteção para celulares e acidentes pessoais, com tíquete a partir de R$ 10 ao mês e 2,2 milhões de apólices ativas.
O Grupo CNP mantém, desde 2011, parceria com os Correios para distribuição de coberturas voltadas a funeral, residência e pequenos negócios, com foco na população de menor renda. A assistência funeral segue entre os produtos de maior demanda.
Projetos comunitários também têm ganhado espaço. A MAG Seguros iniciou o programa “Favela Seguros”, hoje presente em dez comunidades do Rio de Janeiro e São Paulo, com planos desenvolvidos a partir das necessidades locais e comercializados por moradores capacitados. A iniciativa prevê expansão para outras regiões e investimentos em educação financeira.
A Mapfre opera modelo semelhante com o “Mapfre na Favela”, que já atua em comunidades de São Paulo, Pernambuco, Distrito Federal e, em breve, Minas Gerais. A empresa oferece seguros voltados a empreendedores informais, proteção de equipamentos e assistência funerária com serviços adicionais.
Para além da oferta, especialistas destacam a importância de melhorar a compreensão e a percepção de valor dos seguros. Segundo a Susep, a educação financeira é um componente essencial para que consumidores entendam o que contratam e exerçam seus direitos. Ajustes na linguagem contratual e produtos mais flexíveis, como seguros sob demanda ou de cobertura parcial, também são apontados como caminhos para adequar o setor às necessidades do público de baixa renda e ampliar o acesso às modalidades de proteção.
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