Camila Pretko de Lima, Trainee no Núcleo Contencioso da Poletto e Possamai Sociedade de Advogados e Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Paraná
Nas últimas décadas, especialistas de diversas áreas alertam sobre os impactos das mudanças climáticas impulsionadas pelo desenvolvimento industrial e tecnológico. Desta vez, o aviso parte do mercado financeiro, especialmente direcionado a agentes como bancos e seguradoras.
No estudo divulgado pelo Bank for International Settlements (BIS), foi apresentado o conceito de “green swan” que, derivado da expressão “black swan”, utilizada na crise de 2008, representa eventos naturais com impactos de difícil previsão, mas potencialmente danosos ao mercado global.
Vale dizer, assim como o “black swan”, que traduz a perspectiva de acontecimentos imprevisíveis, o “green swan”, compreendido em catástrofes naturais como queimadas, enchentes e até furacões, pode acarretar um desequilíbrio econômico com efeito cascata e, consequentemente, desencadear uma profunda crise, uma vez que os desastres importam em prejuízos financeiros tanto físicos, como relacionados ao sistema produtivo, que é abruptamente paralisado ou reduzido.
Os economistas ainda apontaram alguns dos principais riscos envolvendo o “green swan”, dentre eles: o risco de crédito, que inclui o aumento dos índices de inadimplência, dada a necessidade de reparação de danos físicos com estruturas, casas e demais bens materiais; risco à liquidez das instituições, em caso de impossibilidade de refinanciamento e riscos de transição, relacionados às estratégias de reação pelas companhias de forma desordenada e pouco eficientes em face da crise.
Por sua vez, para as seguradoras, o “green swan” poderá representar um aumento significativo e preocupante do número de chamamento de apólices com cobertura para eventos naturais. Em grande escala, este crescimento afeta sistematicamente o mercado securitário, uma vez que, pagas as indenizações, toda a rede de segurados é afetada.
Dessa forma, é imprescindível que as empresas, especialmente do mercado financeiro e securitário, estejam atentas e adotem medidas para a mitigação dos riscos relacionados ao “green swan”, seja incentivando políticas de sustentabilidade, seja estudando formas de melhores alocações de recursos, dada a tarefa desafiadora quanto à imprevisibilidade das futuras adversidades naturais.
Fontes:
BOLTON, Patrick. Morgan Despres, Luiz Awazu Pereira da Silva, Frederic Samama, Romain Svartzman. The green swan: Central banking and financial stability in the age of climate change. Bank for International Settlements – Janeiro de 2020. p.19-20.
O que é o ‘cisne verde’, que pode causar a próxima crise financeira mundial. BBC. 12/02/2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-51452947
CANUTO, Otaviano. Por que os Bancos Centrais Devem se Preocupar com a Mudança Climática. 15/02/2020. Disponível em: https://www.poder360.com.br/opiniao/economia/por-que-bancos-centrais-devem-se-preocupar-com-a-mudanca-climatica-escreve-otaviano-canuto/